Texto do jornalista e crítico de cinema João Carlos Sampaio sobre o longa de animação O Menino e O Mundo, de Alê Abreu, que estreou esta semana em circuito nacional.
Jornal A Tarde, Salvador, 17 jan 2014.

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Sinopse
Cuca é um menino que vive em um mundo distante, numa pequena aldeia no interior de seu mítico país. Certo dia, ele vê seu pai partir em busca de trabalho, embarcando em um trem rumo à desconhecida capital. As semanas que se seguem são de angústia e lembranças confusas. Até que, numa determinada noite, uma lufada de vento arromba a janela do quarto e carrega o menino para um lugar distante e mágico.
Visite o site do filme: http://omeninoeomundo.blogspot.com.br

 

Animação usa a poesia dos traços simples
 http://cineinsite.atarde.uol.com.br/filme/filme-critica.php?id_filme=40684


As deambulações da trama são incríveis, com direito a flertes psicodélicos, soluções visuais e situações criativas que vão tirando a trama da linha materialmente concreta do seu ponto de partida para um estado de suspensão da realidade.

Por João Carlos SampaioUm antídoto eficaz contra a padronização da arte após o advento da animação produzida por computador. Assim pode ser encarado o filme O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, que, embora conte com os benefícios técnicos do processamento digital, não abre mão de traço a lápis, numa aventura delicada e colorida, que faz muito bem aos olhos.O Menino e o Mundo é o segundo longa-metragem do animador brasileiro, que antes dirigiu O Garoto Cósmico (2007), voltado ao público infantil. Este novo filme é um trabalho de pouco mais de quatro anos, que aspira uma liberdade autoral maior e expressa na sua forma uma autenticidade que emociona.Sem usar diálogos, ou melhor, sem falas reconhecíveis por nenhum idioma humano, os personagens deste filme se parecem com os tipos do cinema silencioso de Charles Chaplin. Aliás, a lógica das cenas passam por esta articulação pensada para que o entendimento dispensasse o conhecimento de qualquer língua diante de sentimentos universais.

A trama mostra um garoto que experimenta o lúdico de sua idade num ambiente rural. Certo dia, surpreende-se com o fato de que o pai terá de deixar o campo para tentar uma melhor sorte para a família na cidade grande. Ele não consegue lidar com esta perda e tenta rearrumar simbolicamente o seu mundo, impedir que esta ausência se dê.

Imaginação

Em companhia da mãe, mas principalmente de sua vasta imaginação, vive num mundo interior bem fértil, onde se refugia das tristezas e busca um jeito de alcançar o pai. Seja recriando memórias passadas ou até mesmo projetando os possíveis caminhos que o levaram/levariam à cidade grande.Alê Abreu trabalha com uma diversidade de técnicas em 2D e 3D, além de recorrer a fotografias do “mundo real” e intervenções que vão delineando o caótico mundo da metrópole como um revés doloroso ao homem com as raízes fincadas no campo, num tipo de vida mais simples e doce.As deambulações da trama são incríveis, com direito a flertes psicodélicos, soluções visuais e situações criativas que vão tirando a trama da linha materialmente concreta do seu ponto de partida para um estado de suspensão da realidade, que expressa o desejo de transcendência, de metáfora poética buscado pelo diretor.

Há um registro da destruição ambiental provocada pela ausência de políticas de sustentabilidade, mas sem que isto ganhe um peso ou ranço denuncista, até porque a questão central da narrativa é opor os dois mundos, a cidade e a roça.A beleza do traço do artista, que, às vezes, abre mão até das cores para investir na singeleza do preto e branco, ganha o acompanhamento de encantadora ambientação sonora, composta pelos músicos Ruben Feffer e Gustavo Kurlat, que inclui participação de Naná Vasconcelos.O rapper Emicida empresta a voz no tema de encerramento, já nos créditos finais, depois que o espectador – de qualquer idade –, pode se encantar com esta bela história.

 

Programação nos cinemas (clique na imagem):

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  3. Voltei agora do cinema!
    Existe um adjetivo que reservo apenas para aqueles filmes muito especiais, melhor que os melhores. Obras que enchem tanto os olhos quanto a alma e deslocam alguns passos o eixo de minha caminhada de artista.
    Esse adjetivo é: PHODÁSTICO.

    Assim, este mesmo, o adjetivo cru que remete a procriação humana. O filme “O Menino e o Mundo” do Alê Abreu é PHODÁSTICO. Após um espetáculo visual, sonoro e poético – numa técnica primorosa, além de uma verdadeira aula de produção em áudio-visual, a sessão encerrou com salva de palmas dos espectadores, entrecortadas com um fio de lágrimas de canto de olho.

    Imagina que essa obra exepcional da cinematografia brasileira, terá apenas uma semana (com sorte duas) em cartaz em uma ÚNICA sala de projeção da cidade (Cine Itaú na Praia de Botafogo) em apenas UM horário (18h)! Ó, porque afinal, as salas brasileiras precisam abrir caminhos para os blockbusters multimilionários que já contam com uma artilharia de marketing ajudando na divulgação. Na sala ao lado, por exemplo, a porcaria “Tarzan” tinha todos os privilégios!

    Para não perder “O Menino e o Mundo” – pois vê-lo em DVD ou na TV será abrir mão de um show de visual inegualável mesmo em grandes produções do gênero feitas na França, Japão ou EUA – você precisa correr e reservar seu lugar no cinemão.

    A obra conseguiu a façanha de ser selecionada para os principais festivais do mundo, e PAPAR os prêmios internacionais, incluso os de juri popular! Merecia muito mais divulgação e espaço em seu país de origem.

    Em resumo: PHODÁSTICO!

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