Por Fausto Junior

Sexta-feira, dia de Oxalá, no dia seguinte à Lavagem do Bonfim, teve pré-estreia em Salvador de Òrun Àiyé – A Criação do Mundo, animação em stop-motion dirigida por Jamile Coelho e Cíntia Maria, realização da Estandarte Produções.

Foram necessárias cinco sessões (sempre lotadas) para atender ao público que compareceu ao Cine Glauber Rocha, localizado em frente à Praça Castro Alves. Quer mais um dado simbólico? Este 15 de janeiro de 2016 marca os 40 anos do decreto-lei que aboliu a necessidade de os terreiros de Candomblé na Bahia pedirem autorização à polícia para a prática de seus ritos (isso mesmo, apenas 40 anos).

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Òrun Àiyé apresenta o vovô Bira (uma bela homenagem ao professor Ubiratan Castro) contando à sua afilhada como se deu a criação do mundo. No Òrun, o mundo espiritual, o deus supremo Olodumaré (na voz de João Miguel) encarrega a um de seus filhos, Oxalá (voz de Carlinhos Brown), a missão de criar o mundo físico (Àiyé). Em sua jornada, Oxalá enfrenta desafios e a inveja de outros orixás, tendo por fim ajuda de Nanã, a mais velha dos orixás, para criar o ser humano a partir do barro.

Este é o tipo de produção que, antes de assistir, se pode dizer: “não vi e já gostei”. Não apenas pela oportunidade de re-afirmar a cultura afro-descendente em um momento de exacerbação da intolerância religiosa, mas também pelo apuro que pôde ser visto nas primeiras fotos divulgadas durante a realização do filme (veja matéria publicada em agosto/2015).

Mateus Di Mambro, Amarildo C. Souza Souza, Carol Aó Freitas, Thyago Bezerra, Cintia Maria, Odilon Camargo, Leo Furtado Oliveira, Jamile Coelho, Cristian Carvalho e Ozano Pereira

ATRÁS: Mateus Di Mambro, Carol Aó Freitas, Cintia Maria, Leo Furtado Oliveira, Cristian Carvalho e Ozano Pereira. FRENTE: Amarildo Souza Souza, Thyago Bezerra, Odilon Camargo e Jamile Coelho.

 

Chama a atenção a riqueza de detalhes na produção do bonecos e os diversos cenários produzidos numa escala que podemos considerar “monumental” em relação ao que se produz de stop-motion na Bahia. O filme é perfeito? Não. Tecnicamente podemos apontar uma falhazinha aqui, algo que destoou um pouco ali. Em geral senti a falta de um pouco mais de respiração, um tempinho a mais na respiração das cenas (inspira… expira, inspira…expira). Mais do que saber desenhar ou esculpir, animar é ter o domínio do tempo. Em animação um segundo faz muita diferença.

Cíntia Maria, co-diretora de Òrun Àiyé. Foto: Divulgação.

Cíntia Maria, co-diretora de Òrun Àiyé. Foto: Divulgação.

 

Mas nada que possa tirar o brilho do trabalho primoroso que a equipe construiu ao longo de quatro anos, desde a concepção, desenvolvimento de roteiro, projeto, inscrição em editais, pré-produção, produção, pós-produção, divulgação, exibição…  resumidos em 12 minutos. Foi muito bom também ver a maneira como a produção do curta conseguiu ter uma boa repercussão na mídia local e promover uma movimentação na noite de pré-estréia que só se vê normalmente em lançamento de longas. As jovens diretoras/ produtoras demonstram uma grande capacidade de realizar e ousar.

Em novembro/2015 Òrun Àiyé recebeu menção honrosa no Festival Brasil Stop Motion, em Recife (PE), na categoria Novos Talentos. Nossa torcida é que percorra vários outros festivais, telonas e telinhas pelo Brasil e pelo mundo. Oxalá!

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