Matéria publicada no jornal A Tarde (Caderno 2, 21/10/2020) sobre a segunda edição da revista Elipse, que foi totalmente dedicada à recente produção cinematográfica na Bahia.

Elipse é uma publicação semestral direcionada ao mercado audiovisual brasileiro, a partir de textos reflexivos e informativos que vão de críticas de cinema a análises econômicas e políticas deste segmento em esfera nacional.

Em entrevista a João Paulo Barreto (A Tarde), o editor-chefe da Elipse, Paulo Henrique Silva, fala sobre o tenebroso cenário em que estamos vivendo no Brasil e sobre a proposta da revista: contribuir para o fortalecimento do audiovisual brasileiro, visitando em cada edição um território de identidade do cinema nacional. Nesta segunda edição o foco é a Bahia e sua tradição histórica com a produção nacional vindo desde o Cinema Novo de Glauber, a nova cena do cinema de animação baiano e entrevistas exclusivas com os atores Wagner Moura e Fabrício Boliveira.


AUDIOVISUAL
Única revista impressa exclusivamente voltada ao Cinema Brasileiro, a Elipse foca a Bahia em sua segunda edição

Jornalismo cultural no meio impresso resiste

JOÃO PAULO BARRETO
Especial para A TARDE

Durante a entrevista para o Jornal A TARDE, o editor-chefe da revista Elipse, Paulo Henrique Silva, cravou uma precisa análise da triste, porém necessária, metáfora existente no nome da única publicação impressa atualmente dedicada aos variados aspectos de criação do Cinema Brasileiro: “Depois de duas décadas de uma produção contínua, de uma mesma política, um pensamento para o cinema brasileiro, isso está sendo, mais uma vez, descontinuado. Mas buscamos outras maneiras de pensar. E eu acho que a (palavra) elipse é muito clara nesse sentido. Agora, estamos um pouquinho longe do sol, mas vamos fazer esse movimento. Daqui a pouco, estaremos próximos e vamos nos aquecer de novo”.

Ao manter um olhar voltado à produção nacional, a revista Elipse, concebida em Minas Gerais pela ONG Contato, salienta a importância do nosso Cinema como modo de propagação da Cultura Brasileira, bem como um potente gerador de emprego e renda. Algo, hoje, ainda mais urgente.

Editor Paulo Henrique Silva e a Elipse: privilegiando o cinema baiano com entrevistas e matérias.
(Foto: Júlia Alves / Divulgação)

E esse salientar acontece de modo embasado, distante de falácias e “achismos” que regram a opinião comum que busca marginalizar a produção cinematográfica do país.

Na leitura da Elipse, é perceptível uma preocupação com tal embasamento das informações apresentadas, mantendo um senso crítico, sim, mas, do mesmo modo, apresentando fatos concretos, oriundos de pesquisas oficiais, para comprovar a estupidez governamental de um projeto de executivo calcado em birras, polêmicas infundadas e em um proposital e leviano interesse na desinformação como plataforma política.

Paulo Henrique explica uma das mais elucidativas e importantes seções da Elipse no aspecto da abordagem do Cinema como meio de geração de renda e de uma identidade.

“Temos uma coluna do Alfredo Manevy, que foi secretário do Ministério da Cultura e presidente da SPCine. Alguém que conhece profundamente a história da política cultural no país desde muito tempo. Quando ele fala sobre a falta que o MinC faz em um governo como o de hoje, faz todo sentido”, afirma.

“Porque você vê a Cultura está sendo jogada de secretaria em secretaria, de ministério em ministério, mostrando qual é a dimensão que esse governo tem dela. Enquanto você tem um ministério, você valoriza a Cultura de um país. Você tem como criar mecanismo para capacitar mais. Engrandecer mais essa arte que é produzida. Historicamente, isso é comprovado em números. O retorno quando você tem um ministério, quando você investe fortemente na Cultura do país, e o que isso traz simbolicamente e economicamente, também”.

BAHIA EM DESTAQUE
Após a edição 1 trazer a atriz paraense Dira Paes na capa e um foco na produção cinematográfica mineira, a ponte Minas com Bahia é feita para o exemplar 2. Duas entrevistas pujantes com dois dos principais nomes recentes da atuação oriundos do estado apresentam um panorama analítico do cenário: WagnerMoura e Fabrício Boliveira.

O diretor de Marighela traz um relato profundo sobre vivermos a época do “triunfo do homem medíocre”, quando governantes de dois dos principais países economicamente relevantes no mundo apresentam uma “predisposição psicopática” durante a atual crise pandêmica. Paulo Henrique explica que “a entrevista é muito forte na maneira como ele (Wagner Moura) percebe o Cinema, a Cultura e a própria política do Brasil. E isso vindo de uma pessoa que está morando (a trabalho) nos Estados Unidos, país com um governante que é, também, conservador, e que tomou atitudes muito semelhantes (às do daqui) no início da pandemia”.

“O Wagner, na entrevista, fala sobre isso com muita propriedade. Nós queríamos uma entrevista que fosse algo de fôlego, como aconteceu na primeira edição, quando a capa foi com a Dira Paes”, compara o editor.

Na presença de Fabrício Boliveira como outro destaque da Bahia na edição de Elipse, uma conversa sobre questões de raça dentro do audiovisual, bem como acerca das atitudes predatórias do governo contra o potencial de uma indústria como a cultural. “Nessa entrevista, ele falou sobre a idiotice que é a atitude de um governo ir contra o próprio Cinema. Porque o Cinema é economia. O audiovisual movimenta muito mais recursos que outros setores da economia. É dinheiro que está sendo investido em diversas áreas
do audiovisual. Então, é uma burrice”, contextualiza Paulo.

O editor-chefe da Elipse salienta, ainda, a fala de Boliveira na comprovação de que, apesar da sabotagem, o movimento cinematográfico não vai parar. “Os grupos e os coletivos vão continuar fazendo cinema. Mesmo que seja na guerrilha”, pontua.

Com matéria sobre a rica produção do cinema de animação na Bahia; uma reportagem sobre Café, Pepi e Limão, próximo lançamento de Lula Oliveira (DocDoma), bem como um resgate de duas obras simbólicas a tratar dos aspectos da religiosidade de matriz africana e da diáspora (Barravento, de Glauber; e Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro) em um brilhante artigo escrito por um professor e babalorixá, o acadêmico Erisvaldo Pereira dos Santos, a edição 2 de Elipse abrange, em suas 72 páginas, um panorama histórico do cinema baiano, sem deixar de focar no futuro desse cenário.

“Quando começamos a pensar a número 2, chegou a passar pela cabeça a possibilidade de lançar tudo digital. Mas não. O carinho das pessoas (pelo impresso) ficou evidente. Vamos perceber isso daqui a dez, quinze anos, quando alguém chegar e falar que tem guardada a revista até hoje. Que tem muito carinho com ela, que a usa como fonte para as matérias, para as pesquisas, para os estudos”, finaliza Paulo no viés da preservação do aspecto físico do cinema.

REVISTA ELIPSE / 72 PÁGINAS
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